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quinta-feira, novembro 24, 2005

TV para negros 

Escandalizo-me. "Vamos combater o racismo", diz um tal Netinho, impulsionador do primeiro canal de televisão "para negros" que está prestes a nascer no Brasil.
No seu blog, James Kanseko (brasileiro e, na óptica dos criadores desta aberração mediática, potencial consumidor do novo espaço televisivo) dá uma opinião interessante acerca do tema.
Já o jornal A Folha Online, media de referência no Brasil, dá a conhecer a posição do The Guardian sobre o caso. “O primeiro canal de TV negro do Brasil enfrenta legado de 300 anos de escravidão”, diz-se por lá.
Que óptima forma de enfrentar o que quer que seja, digo eu. É de uma ignorância bacoca e de uma arrogância repugnante considerar que este tipo de acções pode contribuir para “reduzir as divisões raciais”. Ridículo.

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quinta-feira, novembro 17, 2005

Gostava de ouvir-te cantar na ruas. Lembras-te? 

Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos, novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a todos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonhos em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mãos na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Portugal floriu nas armas.

Manuel Alegre (1981)

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sexta-feira, novembro 11, 2005

Paris já está a arder 

Paris está, de facto, a arder. Mas, estes fogos postos são um pequeno rastilho aceso dos fogos que estão para vir. Quem deixar o centro de Paris e as suas conotações fantasistas e românticas pintadas de Sena e Torre Eiffel, de cafés e boulevards, de croissants e gastronomia, e decidir apanhar a rede de metro suburbana e deixar-se arrastar pela viagem à «grande banlieue parisienne», sabe que o aguarda o inferno no fim da linha. É como passar de um mundo para outro, nos antípodas.
Os subúrbios de Paris, onde moram tantos imigrantes, entre eles os portugueses, são uma massa de desumana arquitectura, talhada e arrumada de propósito para mostrar a quem lá vive a sua alienação e a sua diferença desintegrada. É uma arquitectura monstruosa e apocalíptica, de corredores desabrigados e materiais frios, sem vida comunitária. Lugares onde as pessoas vivem como em gaiolas, atomizadas, isoladas, reduzidas à ínfima espécie da sua condição menor.
Por mais que a França igualitária, republicana, fraternal e idealista, criadora dos Direitos do Homem e herdeira espiritual do Iluminismo queira pensar e repensar o fenómeno da integração dos imigrantes e da suas políticas, o facto saliente é este: ninguém, salvo escassíssimas excepções, está integrado. Magrebinos, negros, árabes, os grupos mais representados, quase todos eles um subproduto residual do colonianismo francês e das suas guerras de libertação, sabem à partida que podem trabalhar em França, viver em Paris, mas, viverão sempre à sombra da luz que ilumina os brancos e os filhos da terra e do sangue.

O racismo francês, latente ou explícito, contaminou sempre a sociedade francesa, uma das sociedades mais chauvinistas e xenófobas do mundo, apesar da capa «cultural» e das manias snobs dos intelectuais que gostam de «descobrir» culturas marginais mas, nunca, de as integrar de pelo direito como francesas ou europeias. A integração cultural, falsa, assente em meia dúzia de participações controladas dos estrangeiros «escolhidos», não oculta nem pode ocultar a separação profunda e radical entre o Estado francês e os grupos étnicos que lhe são estranhos, pelos hábitos, as tradições, a pobreza, a ignorância e a cor da pele.

Esta gente, remetida para guetos donde só saem para trabalhar, espera na ansiedade, na raiva e no desespero. Paris não é Londres nem Nova Iorque, que acolheram sociedades multirraciais sem fracturas nem degradações tão humilhantes como as que atingem os imigrantes em França. Paris não é, sequer, Berlim. É uma capital de luxo e bem-estar, cercada de arame farpado e favela melhorada. Nem Sarkozy, nem Villepin, nem os decrépitos partidos franceses e os seus dirigentes, mais um Chirac decadente e na recta final, estão preparados para enfrentar este magno problema, que requer mais do cargas policiais e manifestações de força e autoridade.

Estes imigrantes desafectados tornar-se-ão, no seu abandono, um perigo sociológico e uma subcultura de crime e desvio da norma.

Texto de Clara Ferreira Alves, in Diário Digital

Quase que me arrisco a subscrever este texto na integra...

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quarta-feira, novembro 02, 2005

Ainda me rasga por dentro 

A escassos dias do nascimento do Comum (pois é... desculpem, mas não consigo estar quieto) encontrei isto. Nunca fui amante de desenterrar o passado, especialmente aqueles momentos que me marcaram de forma menos boa. Mas por vezes é saudável.
A cicatriz ainda está aqui. E dói. Muito.

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