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quinta-feira, abril 21, 2005

Reviver o passado 

Mais uma memória feita de palavras. Há uns meses atrás, escrevia eu assim o meu primeiro editorial do extinto 'Semanário Académico':

Já passaram quase dois anos desde o dia em que elaborei o meu primeiro artigo para este jornal. Hoje, já com algumas histórias para contar, escrevo o meu primeiro editorial.
Aproxima-se mais uma fase de transição no Académico. Tal como em todos os projectos ambiciosos, as pessoas chegam, deixam a sua marca, partem e o trajecto mantém-se. Quanto a isso, e tendo a responsabilidade de ser um dos dinamizadores da continuidade deste jornal, as únicas coisas que posso prometer são trabalho e dedicação, sabendo e, acima de tudo, sentindo que posso fazer destas as palavras de todos os que compõem a equipa que me rodeia.
A este periódico pede-se mais que o habitual: não basta que seja uma bonita história com final feliz, mas sim uma história (umas vezes brilhante, outras nem tanto) sem final, o que é, de todo, bem mais complexo.
Não posso, no entanto, deixar de aproveitar este momento para abordar um assunto que interfere com a vida de muitos dos leitores deste semanário: as bolsas de estudo. Mais um ano lectivo que arranca e surgem novamente rumores de que as bolsas, de apoio a alunos carenciados (ou não…), sofrerão novo atraso no que concerne à sua distribuição.
Pergunto-me inúmeras vezes quais os malabarismos que os bolseiros, aqueles que realmente necessitam de apoio financeiro para poderem frequentar a Universidade, têm que efectuar para ultrapassar tais dificuldades. Pede-se o impossível às famílias, conta-se com a mão amiga de alguns companheiros de anos, e tudo isto porquê?! Porque o ensino no nosso país continua a ser relegado para segundo plano por um conjunto de mentes retrógradas, e porque poucos são os que se conseguem aperceber da real importância de uma formação académica adequada.
Talvez daqui a uma dezena de anos, quando estivermos novamente a lamentar a triste sina desta pátria, à qual um dia foi atribuído o epíteto de desterro à beira-mar plantado, talvez aí seja tarde de mais e compreendamos de uma vez por todas que a Europa, aquela da união, da igualdade e da estabilidade, não passa de uma utopia, pelo menos para o nosso Portugal.
Em jeito de conclusão, e regressando das grandes questões à pequenez do Semanário Académico, resta-me desejar a todos os estudantes, especialmente aos recém-chegados, um óptimo ano lectivo. Por fim, um apelo: que leiam o Académico, que aplaudam, que critiquem, enfim… que sintam como vosso este jornal, pois, se assim não for, ele não fará qualquer sentido.

in 'Semanário Académico' de 6 de Outubro de 2004

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quinta-feira, abril 14, 2005

Rubrica - Reviver o passado 

Há uns tempos a esta parte publiquei (num jornal que nunca esquecerei) algumas coisas que considero interessantes. E porque o passado também faz parte de nós, feito de palavras e muito mais, deixo aqui o primeiro de alguns textos desta rubrica.
Saudações

O Perfume – A história de um assassino
O aroma da alma
Ainda não tinha aberto o livro e já me interrogava com o seu título. Porquê “Perfume”? A resposta dada por esta obra-prima da ficção, escrita por Patrick Suskind, seria de todo inesperada. Publicado pela primeira vez em 1976, este tem sido um livro de culto para sucessivas gerações de leitores, oferecendo a todos uma fantástica viagem ao mundo dos odores.
O relato remete-nos para a França do séc. XVIII, país a atravessar um período de completa apatia em que imperavam na sociedade os interesses burgueses. Há todo um notável trabalho de reconstituição histórica que nos transporta, página a página, até aos meandros da vida de Jean-Baptiste Grenouille, o herói-vilão que protagoniza a obra. Este ser completamente inodoro, mas dotado de um olfacto apuradíssimo, tem na sua existência um único fim: a alquímica busca do aroma ideal, do absoluto. E embora o autor nos apresente a história de um assassino, os crimes acabam por se diluir na globalidade da obra. Esta representa muito mais que isso, e todo o universo de fragrâncias que percorremos durante a leitura, parece ser apenas um pretexto engenhosamente utilizado para explorar algumas das paixões básicas que dominam a humanidade: o poder, a procura de si próprio e o erotismo – todas elas retratadas pela busca do perfume perfeito, duma espécie de aroma da alma.
O livro está repleto de mensagens alegóricas, relacionadas principalmente com a pureza e o próprio “Eu”, que nos passam diante dos olhos enquanto Jean-Baptiste, aquele personagem monstruoso e, ao mesmo tempo, possuidor de uma inquietante pureza, vai cometendo os crimes mais hediondos, até que consegue criar o aroma ideal, capaz de inebriar qualquer ser humano. Por fim a trama é desfeita, sem que se perceba ao certo se Grenouille realizou por completo o seu “sonho”, culminando com um final inteiramente imprevisível, obsceno e chocante.
“O Perfume” deve ser consumido sem a preocupação de formular quaisquer juízos de valor ou preconceitos, pois apenas desta forma será possível apreender toda a estranha beleza que emana a cada folhear de página.

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